sexta-feira, 30 de julho de 2010

O CRISTÃO NA POLÍTICA (2)



  •  Há exemplos bíblicos de crentes na política?
Em primeiro lugar é importante definir política para compararmos os sistemas políticos exemplificados na Bíblia e o que hoje é exercitado no mundo e em nossa nação.

A política é uma arte, pois também diz respeito à maneira de ser ou de agir, mostrando a habilidade de alguém naquele ofício público. É ciência por agrupar conhecimentos necessários a organização e desenvolvimento da sociedade, e sempre de forma pública. Em minha concepção, uma das mais belas artes e ciências é a Política, se exercitada íntegra e genuinamente. 

Como formas de poder para o exercício político, temos a Autocracia, Democracia, Oligarquia e Teocracia. Os sub-tópicos de cada forma dá-nos clareza na concepção. Por exemplo, a nação de Israel, ao ser estabelecida por Deus, deveria ser conduzida teocraticamente. O desejo de Deus era que seu povo tivesse um reino sacerdotal (Ex 19.6), onde Ele mesmo os conduzisse em suas leis. Daí a instituição da Lei ou Torá, que tem o seu resumo no Decálogo (Ex 20; Dt 5).

Porém Israel, ao observar outras nações, pediu a Deus um rei (I Sm 8.5), era o início da Autocracia (ou monarquia), onde muitos reis passaram agradando e desagradando ao Senhor.
No Brasil, vivemos em uma Democracia, onde os representantes públicos do âmbito legislativo e executivo são escolhidos através do pleito. 

Assim, ao observar os homens e mulheres que estavam exercendo cargos políticos no período bíblico de Israel, vemos que àquele sistema político não tinha nada a ver com este sistema que hoje nos serve. Os exemplos extraídos da Bíblia, para justificar a participação de crentes na política, não cabem em nosso contexto. Vou citar alguns deles: 

José, governador do Egito, foi colocado milagrosamente por Deus naquele cargo, com o objetivo de cumprir o plano que o Senhor havia traçado para seu povo. Antes e depois de José, que outro governador servo de Deus assumiu aquele posto? Não há registro bíblico.

Moisés foi legislador das leis promulgadas por Deus aos filhos de Israel, as quais ele recebeu no monte Sinai aceso em fogo (Ex 19.18; Hb 12.18). Aquela legislatura era sacerdotal.

Davi foi ungido rei por Samuel (I Sm 16.12,13) sob a orientação de Deus, e começou o reinado sem passar por eleição popular, onde não se cabia compra de votos, favores e outras formas de corrupção. Da mesma forma outros reis que vieram após ele, e que agradaram ao Senhor. 

Daniel foi levado cativo com outros judeus por ocasião da invasão de Nabucodonosor a Jerusalém (Dn 1). Lá, sob providência divina, ele e seus companheiros foram guardados dos perigos advindos de uma nação estranha e, cumprindo o propósito de Deus, Daniel chegou ao posto de estadista. A posição pública de Daniel não apagou o ministério profético escolhido por Deus para ele. Mas a postura deste servo fiel é muito dispare dos exemplos que vemos no atual sistema político. Repito a pergunta: Antes e depois de Daniel, que outro estadista servo de Deus assumiu aquele posto? Não há registro bíblico.

Outros exemplos bíblicos poderiam ser citados para mostrar que há uma distancia muito grande entre o sistema, a forma e o propósito que fizeram aqueles personagens chegarem aos cargos públicos e o que vemos em nosso contexto atual.

Minha compreensão, aliada aos fatores mencionados, é de que há exemplos bíblicos de crentes políticos NAQUELA FORMA E COM AQUELES PROPÓSITOS citados, onde o objetivo maior era a realização dos planos de Deus para com o povo israelita. 

Considerando o contexto atual da política em nossa nação, nenhum exemplo bíblico deve ser usado para justificar a participação efetiva de crentes na política.

Não obstante, se houver necessidade hoje de um cristão dentro da esfera política para favorecer a Igreja do Senhor, Ele pode utilizar seus métodos incomuns e sobrenaturais para defender seu povo, como no caso da rainha Ester.

Na próxima postagem responderei a última pergunta, mais polêmica e com “muito pano pra manga”.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O CRISTÃO NA POLÍTICA


Com todo o respeito às amizades de pessoas próximas a mim, e que estão de alguma forma, envolvidos diretamente com o sistema político e com alguns políticos. Respeitando as divergências de opiniões relativas a este tema, por parte de algumas lideranças também próximas a mim, e considerando algumas falhas na condução de justificativas para a associação do cristão genuíno com esse sistema político que nos serve, resolvi produzir esse comentário para que, de uma forma mais objetiva, as pessoas saibam minha postura, a forma como tento me conduzir nesta temática a partir de princípios que desde minha tenra idade procurei seguir, e especialmente, desde que comecei a exercer o direito a mim conferido, de participar dos pleitos como eleitor.
Pelo menos três questões sempre são levantadas sobre este tema, tais como: A igreja evangélica necessita de representantes políticos? Há exemplos bíblicos de crentes na política? É correto um cristão ser político?
Vou dar meu parecer em três postagens, começando com a primeira pergunta:
·         A igreja evangélica necessita de representantes políticos?
A igreja de Jesus, santa e imaculada, cresceu e desenvolveu-se sob o cuidado e a proteção única de Deus, mediante o poder e a operação específica do Espírito Santo. Os registros bíblicos e históricos comprovam isso. Nas perseguições que enfrentou, sempre recorreu à ajuda divina e a obteve (At 4.3-29; 5.18-20; 8.1-8; 12. 1-11; 14.22; 16.23-32; 21.13,14,27; etc.). O próprio Jesus instruiu os discípulos sobre a ajuda que receberiam do Espírito Santo nos momentos de perseguição (Mt 10.17-20; Jo 14.16-18).
No livro O Cristianismo Através dos Séculos, Earle E. Cairns coloca de forma elucidativa as perseguições enfrentadas no âmbito político, religioso, social e econômico, desde Nero indicando na Igreja o bode expiatório para o incêndio de Roma, passando pela interdição estatal da Igreja até as perseguições universais quando Diocleciano ordenou o fim das reuniões cristãs. E quais as conseqüências das perseguições enfrentadas? “... o sangue dos mártires era a semente da Igreja”1. A Igreja cresceu.
            O Edito de Milão, promulgado por Constantino para favorecer a Igreja, numa tentativa de aproximá-la do Estado, tinha por trás problemas políticos enfrentados por ele. E depois, quando Teodósio I estabeleceu o cristianismo como a religião exclusiva do Estado, os membros da Igreja, mas não verdadeiros convertidos, acabaram por misturar seus padrões de vida e costumes com a doutrina cristã e assim a Igreja ficou paganizada.
A história da Igreja cristã nos alerta para as conseqüências da junção dos líderes religiosos com os poderes do Estado. A supremacia e o poder papal chegam ao ponto de confundir-se com a posição dos imperadores. Como exemplo, na sua obra O Príncipe, Maquiavel, ao dar conselhos ao Duque Lorenzo II, cita o papa Alexandre VI, que foi feito bispo e cardeal por seu tio, o papa Calisto III. Para chegar ao poder papal, Alexandre VI (ou Rodrigo Bòrgia) por ser riquíssimo, comprou votos dos cardeais e entrou para a história pela fama de seus crimes.2
Outros exemplos, extraídos ainda de O Príncipe, poderiam ser mostrados para indicar as aberrações que circundaram a Igreja durante muito tempo, em conseqüência da abertura desta para o poder do Estado, para as questões políticas que chamavam às questões econômicas e, por conseguinte, as questões sociais, onde, usando o nome da Igreja, muitos líderes religiosos tiveram atitudes extravagantes que vão desde corrupção a prostituição. Um verdadeiro caos moral que culminou com as cisões e com a Reforma Protestante.   
 Olhando para a história de Israel, o povo de Deus, vemos que em todo o percurso desse povo, em todas suas conquistas, quem os defendia e os guiava era o próprio Deus, não precisando o povo de confiar nos poderes humanos e falhos. A propósito, o castigo de Deus a Davi por ele ter enumerado as tribos, dá provas claras de que Deus não aceita a substituição de sua ajuda por auxílios falíveis, tais como quantidade. Por ocasião do cativeiro, mesmo em terras estranhas, Daniel e seus companheiros foram protegidos milagrosamente por Deus (Dn 1-6). E para a libertação do povo, o Senhor levantou até um rei gentio, o rei Ciro, que conduziu o Seu povo à liberdade (Is 44. 28; 45.1; Ed 1.2). Foi nessa confiança que o salmista declarou: “O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem” (Sl 118.6).
Trazendo a discussão para mais próximo de nós, com os primórdios do Evangelho no Brasil e a implantação das Assembléias de Deus no Nordeste e nas demais regiões brasileiras, vemos que a perseguição foi acirrada pelas autoridades induzidas pelos padres locais. No município de Ceará-Mirim, em 1930, Deus usou o governador Juvenal Lamartine, mesmo sem ser evangélico, para permitir que o evangelho fosse pregado em meio à perseguição3. Se confiarmos no Senhor, ele nos protege usando até o ímpio.
Há o argumento de que, como representante político, um crente pode defender a causa do evangelho, especialmente nas leis que tramitam contrárias à mensagem cristã. Porém, a morte de Jesus se deu por ele estar “contra a lei”. “Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.” (Jo 19.7). Paulo também foi perseguido por estar “contra a lei”. “Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei” (At 18.13). O apelo de Paulo a César não o tirou da prisão, apenas o permitiu pregar para o rei Agripa (At 26). Se a perseguição tiver que vir à Igreja evangélica brasileira, não serão os representantes evangélicos que impedirão. “Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus” (I Pe 4.14). A censura e o desprezo sempre fizeram parte da história da Igreja e ela avançou por que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).

Por outro lado, os candidatos eleitos não devem representar um segmento específico, mas a população em geral. Os projetos de lei nas diversas áreas como saúde, educação, transporte ou segurança pública, quando aprovado, deve trazer benefício às pessoas de todas as religiões.

 

Então, diante desses e de outros fatos bíblicos e históricos, não creio que a Igreja necessite ter representantes humanos e falíveis para defendê-la. Quem nos defendeu e nos defende até hoje, e sempre de forma milagrosa, é o Senhor Jesus, e nele sempre somos mais que vencedores (Rm 8.37; I Co 15.57). Afinal de contas, a Igreja não é uma simples organização humana e falível, somos o organismo vivo de Cristo, o corpo de Cristo, e Ele como cabeça, sabe nos conduzir (I Co 12.27; Ef 1.22,23; Cl 1.24).
A Igreja evangélica NÃO necessita de representantes políticos.
Aguarde a próxima e comente.
BIBLIOGRAFIA:
1CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, Uma História da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1995.
2MACHIAVELLI, Nicolo. O Príncipe. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
3ALMEIDA, Abraão de. História das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 1982. (Pág. 147).