segunda-feira, 8 de julho de 2013

Como ganhar MUITO dinheiro, trabalhando POUCO?


Existem algumas respostas para a pergunta acima. Mas eu vou arriscar uma, de forma bem direta: é só entrar logo (ser um dos primeiros) num desses programas de Marketing que usa o mecanismo da chamada Pirâmide Financeira.

Agora, quero comentar três implicações para a decisão de embarcar nessa canoa do dinheiro fácil.

Primeiro, além do Ministério da Fazenda concordar que a Pirâmide Financeira é crime contra a economia popular, porque sugere a oferta de ganhos altos e rápidos como “comissões excessivas acima das receitas advindas da vendas de bens reais”, é preciso ter em mente que toda pirâmide tem um topo e uma base. Quem começa, quem está entre os primeiros, ganha mais; já quem está entre os últimos ganha menos, de forma que alguém acabará não ganhando, embora tenha feito algum investimento. Então, você considera justo lucrar em cima dos investimentos de quem não ganhará? E ainda que isto fosse legal, me parece que não seria moralmente correto. O que você acha?

Em segundo lugar, a idéia que é passada por alguns promotores desses programas de Marketing, é de que nós trabalhamos muito para enricar outros, e assim nos cansamos, ganhando pouco. O que se assemelha à noção de trabalho como estafa, fadiga, cansaço. É bem verdade que o termo trabalho vem do latim “tripalium”, um instrumento de tortura, e que também era usado para dominar cavalos indóceis.

Em Gênesis 3.17-19, a estafa decorrente do trabalho foi inserida como penalidade do pecado: “maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás”.

Mas essa idéia de trabalho como cansaço e até escravidão, aqui em nossa nação pode ser encontrada nos primórdios da nossa formação. Sabemos que, em 500 anos de história, o Brasil teve três séculos e meio de regime escravocrata contra apenas um de trabalho livre. Como encontrado num caderno de História do Brasil, podemos fazer a pergunta: “Quê conseqüência teve esse legado?”. O humanista belga Nicolau Clenardo que aqui esteve nos meados de 1500 a serviço da corte portuguesa, em 1502 arriscou responder: “Se há um povo dado a preguiça, sem ser o português, então não sei onde ele exista”. Daí se conclui: se no reino era assim, pior ficou no trópico.

Em 1808, o inglês John Luccock, visitando o Brasil, comentou que, no país, os brancos se sentiam “fidalgos demais para trabalhar em público”. Meio século depois, Thomas Ewbank, também britânico, dizia que, na colônia, “um jovem preferiria morrer de fome a abraçar uma profissão manual”. Segundo ele, a escravidão tornara “o trabalho desonroso – resultado superlativamente mau, pois inverte a ordem natural e destrói a harmonia da civilização”. As críticas não eram fleuma britânica, pois para Luis Vilhena, luso que ensinava grego na Bahia, o país era o “berço da preguiça”.

“Em pleno alvorecer do segundo milênio, o Brasil ainda parece comungar da tese segundo a qual trabalho é escravidão. Por quanto tempo, nestes tristes trópicos, liberdade será sinônimo de ócio e inatividade?”.

É oportuno recorrer às instruções bíblicas concernente à preguiça e ao trabalho: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio. Pois ela, não tendo chefe, nem guarda, nem dominador, prepara no verão o seu pão; na sega ajunta o seu mantimento. Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco a dormir, um pouco a tosquenejar; um pouco a repousar de braços cruzados; Assim sobrevirá a tua pobreza como o meliante, e a tua necessidade como um homem armado” (Pv 6.6-11).

Em terceiro lugar, ganhar muito dinheiro trabalhando pouco também não parece algo justo, pois parte do dinheiro ganho não foi decorrente de esforço válido que o justifique. Desde o princípio da história do mundo sabemos que o sustento e as conquistas do homem são em conseqüência do seu trabalho. E a Bíblia Sagrada nos oferece indicações claras de que deve ser assim.
O exemplo do próprio Deus trabalhando é suficiente. Em Gênesis 2.2 encontramos: “E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito”. O termo descansou, no original é sabbath que significa cessou, terminou. Então Deus concluiu a obra, o trabalho da criação.

No salmo 104, como disse o teólogo Aníbal Pereira Reis, temos pinceladas poéticas que remetem ao trabalho de Deus. Veja:

• “... estende os céus como uma cortina”
• “Põe nas águas os vigamentos das suas câmaras”
• “faz dos ventos seus mensageiros”
• “lançou os fundamentos da terra”
• “traçastes limites (para as águas) que não ultrapassarão”
• “fazes rebentar nascentes nos vales, que correm entre os montes. Dão de beber a todos os animais do campo; os jumentos monteses matam com ela a sua sede”
• “Ele rega os montes desde as suas câmaras: a terra farta-se do fruto das suas obras. Faz crescer a erva para os animais, e a verdura para o serviço do homem, para que tire da terra o alimento”, etc.

Quando questionaram Jesus por ele ter curado um paralítico no tanque Betesda ele respondeu: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” Jo 5.17.

Jesus colocou-se ao lado de Deus Pai como exemplos de trabalhadores, e, como seus seguidores (1 Pe 2.21), devemos encarar o trabalho como algo bom, a despeito da origem do termo, como mencionado anteriormente. O quarto mandamento é bem expressivo ao dizer: “Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra” (Ex 20.9). Também é digno de nota que, uma das parábolas de Jesus fala a respeito de um pai de família que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha, e durante todo o dia (cinco vezes) contratou vários funcionários após perguntar: “Por que estais ociosos todo o dia?” (Mt 20.1-16).

Paulo, o apóstolo, escreveu aos tessalonicenses assegurando que “nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós” (2 Ts 3.8). Em sua primeira epístola aos tessalonicenses ele já havia dito: “Porque bem vos lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; pois, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, vos pregamos o evangelho de Deus” (1 Ts 2.9). Lucas nos informa, em Atos 18.3, que o ofício de Paulo era “fazer tendas”, o mesmo de Priscila e Àquila.

É por isso que a Bíblia instrui: “Então sai o homem à sua obra e ao seu trabalho, até à tarde” (Sl 104.23). Eurípedes, o poeta grego, disse: “O trabalho é o pai da honradez”. E Hesíodo, outro grego, assegurou: “O trabalho não é vergonha, vergonha é a ociosidade”. Já do poeta romano Virgílio encontramos a frase: “Labor omnia vincit improbus”, ou seja, “O trabalho assíduo vence tudo”.

Devemos, então, ter a assertiva bíblica como princípio para nossas conquistas: “Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem” (Sl 128.2), e não aqueles caminhos fáceis “que ao homem parece direito” (Pv 14.12), mas que como fim induz ao erro.

Cláudio Ananias